A vendedora Talita Oliveira, de 28 anos, comoveu o país com sua história em novembro de 2017. Ela foi vítima do então namorado que durante uma sessão de espancamento conseguiu arrancar a orelha e o nariz da vendedora com mordidas.
O rosto de Oliveira ficou inteiramente desfigurado e ela ainda deve passar por 10 cirurgias estéticas. Até agora, ela já foi operada cinco vezes. Talita concordou em falar sobre sua história e conta que, depois da agressão, ainda não conseguiu retomar sua vida.
“Desde então eu não me relacionei com ninguém, e nem pretendo. Criei uma espécie de armadura. Não que eu me culpe, mas fico pensando: ‘Por que não me atentei aos sinais? Por que depois da primeira agressão não separei?’.
Ele foi preso, acabou. Mas eu tenho que aprender a me socializar de novo”, conta. Talita ressalta que sua história é semelhante a de muitas outras mulheres e chama a atenção para o fato de que o agressor não muda, mas seus ataques se intensificam.
“O que aconteceu comigo foi exatamente o ciclo da violência doméstica. Primeiro ele começou a violência verbal, depois foi um empurrãozinho, dava ordens sobre que roupas deveria vestir, dizia como uma mulher deveria se comportar, até chegar nas agressões.
E eu o desculpava. Ele dizia que ia mudar, pedia perdão, chorava”, revela. “As mulheres precisam ter força pra pedir ajuda. É mais fácil a gente gritar do que continuar (no relacionamento) e uma família enterrar a gente”, conclui.
A agressão que resultou na mutilação aconteceu depois que a mãe da vítima saiu para o trabalho. Ela conta que mais cedo havia impedido que o homem agredisse Talita, entrando na frente, mas que quando saiu para o trabalho a violência aconteceu.
“Depois das mordidas, eu peguei o nariz e a orelha do chão, mas os membros necrosaram, e eu não consegui reimplantá-los. O médico disse que teria que pegar um pedaço da testa e da boca, mas que não tinha jeito. Ele falou que eu não teria mais o nariz como era”, conta.
Talita tenta conscientizar as pessoas sobre violência doméstica. “As pessoas dizem muita maldade e fazem piadas, falam: “O que será que ela fez pra merecer isso?”. Ninguém merece passar por uma situação dessa, seja homem ou mulher.
Claro que encontrei pessoas de luz, que me disseram que sou bonita por dentro e por fora. Tive amigos que me defenderam, rebateram essas coisas horríveis”, conta. “Eu fico bem na minha casa, sozinha, mas quando estou na rua as pessoas olham, perguntam.
Sempre tenho que contar a mesma história e revivê-la todos os dias. Eu tenho filhos, então choro muito na madrugada, pra eles não verem”.