Policiais militares usaram balas de borracha, bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta para dispersar integrantes de um bloco na Barra Funda, Zona Oeste de São Paulo, na noite desta terça-feira (5).
Após a ação, um dos PMs, que estava sem identificação, ameaçou uma das vítimas: “Não tenho cerimônia em quebrar cara de mulher”, afirmou acusado
Um vídeo gravado por morador do bairro mostra o momento em que os policiais usam spray de pimenta contra poucas pessoas que estão na calçada de um bar na Rua João de Barros, perto da Rua Brigadeiro Galvão.
Na sequência, bombas de gás lacrimogêneo são lançadas. Segundo testemunhas, foram jogadas ao menos cinco delas. Um PM com escopeta municiada de balas de borracha dispara duas vezes em linha reta, em direção aos foliões, ferindo pelo menos dois deles
Segundo Paula Klein, uma das diretoras do Agora Vai, o bloco saiu às 15h e terminou às 19h, antes do horário previsto, por conta da forte chuva que atingiu a região. De acordo com ela, antes das 22h as vias já estavam liberadas e o som já tinha sido desligado. A abordagem ocorreu por volta das 22h30.“A CET já tinha conversado com a gente falando que estava tudo certo, que estávamos dentro do horário. Às 22h já não tinha mais nada. Sobraram umas 15 pessoas dentro de um bar, sendo que seis delas eram parentes do dono do bar”, disse. ”
As outras pessoas do bloco estavam ali limpando lixo, empilhando caixas de cerveja, conversando. Não tinha nem som ligado. Foi quando a polícia chegou mandando bala em quem estava no bar.”
As balas de borracha atingiram o maestro do bloco, Lincoln Antonio, e sua namorada, Thaís Campos. Segundo Lincoln, pelo menos cinco pessoas ficaram feridas.
“Eu vi quando o policial mirou em mim. Dei uma escapada e a bala pegou na minha bunda. A Thaís foi atingida na altura da costela, direto na pele. Uma cantora também foi atingida por estilhaços da bomba, recebeu 20 pontos e está imobilizada. Outro conhecido também levou uma bala”, afirmou.
Para o músico, a abordagem dos policiais foi violenta e desproporcional à situação. “Eles tiveram uma ação que a gente fica completamente escandalizado, porque tinha muito pouca gente na rua.
A rua não estava bloqueada, os carros passavam. As pessoas estavam na calçada. Não tem nada que justifica essa ação. Se tivesse uma multidão, um caos, mas era algo completamente distinto disso”, disse.
Ameaça contra mulher
Após a ação, o casal e mais alguns integrantes do bloco decidiram relatar a abordagem violenta na 3ª Companhia do 4º Batalhão da PM, em Perdizes, responsável pelo patrulhamento da área.
Chegando lá, encontraram o policial que havia atirado contra eles e iniciou-se uma discussão.Sem identificação, o PM pediu que Thaís se mantivesse afastada.
Quando foi questionado sobre o motivo de ter atirado, o policial afirmou que estava cumprindo o “direito previsto pelo artigo 5º Constituição, das pessoas que pagam IPVA de passarem com seus carros ali, o direito das pessoas de ter o seu devido descanso”.
Lincoln então respondeu que estava na calçada e que o grupo não bloqueou a via. Em seguida, o policial fala para Thaís: “Não aponta o dedinho, não. Você vai tomar um atropelo. Não tenho nenhuma cerimônia em quebrar a cara de mulher”.
“A gente estava no balcão de atendimento falando com outro policial quando ele (o policial da ação) apareceu e disse que havia atirado. Ele o tempo inteiro falava para a gente não se aproximar, mas a gente estava completamente parado. Só queríamos relatar o que aconteceu. Imagina se vou enfrentar um policial. Foi aí que ele ameaçou minha namorada”, diz o músico.
O grupo então resolveu deixar o batalhão e seguir para o 91º Distrito Policial, na Vila Leopoldina, para registrar boletim de ocorrência. No local, os policias civis não registraram o caso; eles orientaram o casal a procurar um pronto-socorro para buscar atendimento pelos ferimentos e depois procurar a Corregedoria da PM.
“Estamos reunindo as pessoas (que se machucaram) para ver agora qual é a melhor ação. Mas parece que o melhor caminho é a Corregedoria e o Ministério Público. Vamos fazer a reclamação, sem dúvida”, afirmou.